No contexto pandêmico em que nos encontramos, a ideia de cura impõe-se como horizonte para o humano. Todavia, quando o discurso da saúde se converte em política de segurança, oscilamos entre a cura como prática de controle e o “trabalho de cura” como reinvenção do coletivo e do sentido de comunidade. O que está em jogo é nossa capacidade de imaginar e de não nos orientarmos apenas pelas coisas visíveis das existências.
A proposta de elaborar um dossiê temático sobre Curadoria da Performance e Processos de cura em Artes Cênicas, vinculado à URDIMENTO, revista de estudos em Artes Cênicas da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, surgiu com a intenção de reunir reflexões de artistas e pesquisadoras/es sobre práticas artísticas contemporâneas de criação e/ou curadoria que dialoguem com perspectivas e obras disruptivas. Tais práticas, ao desafiar as ordens hegemônicas, abrem frestas nos processos corporais e cênicos e interrogam o que entendemos por “cura”.
Participaram dessa conversa sobre cura e curadoria as/os editoras/es do dossiê: André Luís Rosa, professor-doutor da UEM; Daiane Dordete Steckert Jacobs, professora-doutora da UDESC; Dodi Tavares Borges Leal, professora-doutora da UFSB; professor-doutor da USP; Mara Lucia Leal, professora-doutora da UFU; com mediação de Maria Fernanda Vomero, doutoranda pela USP, curadora das Ações Pedagógicas da MITsp (2015-2020) e também integrante do comitê editorial.
A conversa foi realizada no dia 28 de março de 2021, pelo Zoom
André Luís Rosa transita entre a performance, a pedagogia e os saberes ancestrais e oraculares. Ator/dançarino/performer, pesquisador das Artes da Cena e professor adjunto da Licenciatura em Teatro da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Doutor em Estudos Artísticos – Teatrais e Performativos – pela Universidade de Coimbra/Portugal (UC). Mestre em Artes Cênicas pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Licenciado em Educação Artística – habilitação plena em Artes Cênicas pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Coordenador do Grupo de Pesquisa Protocolos de Convivialidade: performance, pedagogia e saberes anticoloniais (UEM/CNPq), aliado ao Movimento sem Prega (MsP) que abrange um conjunto de pessoas e atividades de diferentes campos de investigação cultural, política, espiritual e linguística, funcionando como uma estrutura laboratorial nômade na produção de espetáculos, performances, oficinas/workshops, assessoria e mentoria artística/cultural e terapêutica.
Daiane Dordete Steckert Jacobs é Professora Associada do Departamento de Artes Cênicas da UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina, na área de voz/interpretação, e do Programa de Pós-graduação em Teatro da UDESC. Doutora e Mestra em Teatro pela UDESC. Bacharela em Artes Cênicas com habilitação em Interpretação Teatral pela FAP – Faculdade de Artes do Paraná (UNESPAR). Editora Associada da Revista de Estudos em Artes Cênicas URDIMENTO (PPGT/UDESC) e da Revista VOZ E CENA (PPGACEN/UnB). É atriz, diretora, dramaturga, contadora de histórias e poeta. Pesquisa nas áreas de voz, atuação, performance, teatro performativo, teatro narrativo, contação de histórias, teatro feminista, teoria crítica feminista e estudos de gênero.
Dodi Tavares Borges Leal é travesti educadora e pesquisadora em Artes Cênicas. Professora do Centro de Formação em Artes da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Dedica-se aos estudos da performance e visualidades da cena e do corpo, perpassando por ações de crítica teatral, curadoria e pedagogia das artes. Doutora em Psicologia Social (IP-USP), com estágio doutoral em Estudos Artísticos na Universidade de Coimbra, concentração Estudos Teatrais e Performativos, e licenciada em Artes Cênicas (ECA-USP). Líder do Grupo de Pesquisa Pedagogia da Performance: visualidades da cena e tecnologias críticas do corpo.
Mara Lucia Leal é artista-docente do Curso de Teatro e do PPGAC-UFU. Desenvolve pesquisa sobre Cena Contemporânea e Performance na interface entre criação e práticas artístico-pedagógicas. Organizou os InterFaces e os dossiês sobre Desmontagem (2013/14) e Performance e Pedagogia (2016/17), publicados na Revista Rascunhos (GEAC). É autora do livro Performance e(m) Memória (EDUFU, 2014). Em 2017 realizou o pós-doutorado com foco nos procedimentos de desmontagem cênica e reperformance (México/Espanha). Em 2018, organizou em conjunto com Ileana Diéguez o livro “Desmontagens: Processos de Pesquisa e Criação nas Artes da Cena” (7Letras). Faz parte do Comitê Editorial da Revista ouvirOUver.
Maria Fernanda Vomero é jornalista, performer e doutoranda em Pedagogia do Teatro pela Universidade de São Paulo (USP), com uma investigação sobre Artes Cênicas, processos artísticos e experiência política na América Latina. No mestrado, debruçou-se sobre as experiências teatrais realizadas na Palestina. Tem especialização em Documental Creativo pela Universitat Autònoma de Barcelona (UAB), Espanha. É curadora das Ações Pedagógicas da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp) desde a segunda edição do festival, em 2015. Tem atuado como provocadora artística em diversos coletivos teatrais da cidade de São Paulo desde 2014. Também é autora e intérprete de conferências performáticas, tais como “Quero Ser Sua Presidenta” (realizada no Memorial da Resistência, São Paulo, em 2018), “Eres Polvo y en Polvo te Convertirás – Refexiones sobre Derechos Humanos en las Américas” (apresentada em Santiago, Chile, em 2018) e “Piedras Rotas, Memorias Insumisas” (realizada em Oaxaca, no México, em 2019). Participou de uma residência artística em performance com o Grupo Teatral Deciertopicante, de Tacna (Peru), graças ao apoio do Iberescena – Fundo de Ajuda para as Artes Cênicas Ibero-Americanas, entre agosto e novembro de 2018. Como jornalista, passou pelas revistas Época São Paulo, Bravo! e Superinteressante, entre outras publicações.